quarta-feira, 19 de maio de 2010

Um certo professor do Dorotéia


Isso que relato agora serve pra todos meus leitores, meus amigos, não somente meus alunos. Vejam como é bom ser professor, se alguém, por ventura, está passando por alguma dificuldade em suas aulas, que o texto abaixo sirva como estímulo. Ah, e não duvidem, é tudo a mais honesta verdade...
Quando, no dia 23 de dezembro de 2009 descobri que faria parte do corpo docente do colégio Santa Dorotéia, durante 5 segundos não esbocei nenhuma reação, não consegui. A maratona de entrevistas, as conversas, os diálogos com supervisoras, orientadoras, psicóloga...Tudo isso, tudo, eram as portas, as etapas que me dariam acesso àquela gurizada que ainda não conhecia, mas que sabia que seriam, acima de tudo, meus amigos, sabia que iria conhecer pessoas que não esqueceria jamais, nem a pau!
Bingo!!!! Não errei. Essas coisas do coração a gente não erra!
Pois bem. Foi um verão sem descanso, angustiava-me a idéia de que a cada dia era um a menos até aquele em que estaria de frente com eles, executando de fato o ofício para o qual me preparei durante alguns anos acadêmicos. Um misto de conteúdos a serem escolhidos com atividades fora do tradicional, tudo para cumprir as apostas que as supervisoras da escola fizeram em mim, além de acompanhar o fabuloso e inquestionável trabalho que o professor Vander já vinha fazendo (cara fantástico, do qual sou o fã número um, com certeza).
Mas daí, o dia chegou, sempre chega, o tempo é poderoso, ninguém para ele, como na mitologia grega onde Cronos (o tempo) devorava seus filhos...Chegou!!!
Masahhhhhhh!!
Essa é a palavra que mais se aproxima de tudo que tem me acontecido na escola desde o dia que comecei a dar aula lá.
Eu gosto de História, mas minha preocupação é que meus alunos também gostem, e mesmo que não venham a gostar, aprendam a conviver com ela da melhor forma possível. Sempre digo isso a eles. Faz parte do currículo, então...Mas o mais importante não é isso. O melhor de tudo é o entrosamento que tenho com eles, as amizades que venho estabelecendo, os filhos que venho adotando, pois quando os vi pareciam tão pequeninos, mas conhecendo-os, tornaram-se gigantes, às vezes acho que vão me engolir, hehehe...
Como um carro desgovernado na contramão de uma freeway apressada e mal-humorada, eu vou dirigindo e sorrindo (sorrindo muito), dizendo: “sim, sou professor”, em meio a esse monte de críticas atribuídas a minha profissão. Mas também, com alunos que nem esses...bom, não vou ficar elogiando muito, há muito olho-grande por aí, já são meus, morro de ciúmes!
Parabéns, meus alunos do Santa Dorotéia, vocês, todos os dias, fazem com que eu cada vez mais tenha certeza do caminho que escolhi pra minha vida, pois vocês traçam ele junto comigo.
“Oi sooor” é a palavra mais emocionante e a mais bonita que tenho ouvido ultimamente, me empolgo, curto muito, muito...Entro na aula a milhão, com toda minha hiperatividade que às vezes atrapalha até a própria aula (putz).
Amo vocês meus amores, o que escrevo é de coração. Amo a todos, todos, os mais estudiosos,os mais bagunceiros, os mais quietinhos, todos conseguem demonstrar, da sua forma o seu carinho...
Já somos amigos pra toda a vida, com certeza...
Todos vocês, sem exceção, merecem um Halls preto. Beijos do Sor!

Marcito Castro (PROFESSOR)

terça-feira, 4 de maio de 2010

MADRUGADA (por Ana Inês Klein)


Olhem só o texto que cruzou meu caminho, que invadiu meus olhos. Sim, os pensamentos fantásticos ainda existem, e podem estar nos cercando. Eis as reflexões de Ana Inês Klein, uma ex-professora. Algo simplesmente...bom, vejam vocês mesmos:

"MAGRUGADA
Acordo de madrugada e ando pelo apartamento em busca de água. E algum sossego.
No caminho encontro minha gatinha misturada ao escuro da sala. Descubro essa identidade minha com ela: andar na madrugada, descalça; ver no escuro; andar no escuro; viver a noite; ouvir o dia amanhecer lá fora.
Minha agitação tem vários motivos semanais, mas minha serenidade também terá.

Quando eu disse ao meu vizinho que outras coisas me atrapalhavam bem mais do que suas ótimas músicas, libertei um monstro que tinha dentro de mim. Disse com isso que somos iguais em muita coisa e que eu estava do lado dele. E por que não? Não sei.
E por que sim? Porque sim, porque é o mundo que eu entendo. É onde eu ando, sem bater nas coisas, é onde eu transito segura. É como a noite do meu apartamento.

Mas amanhece e eu fico determinada a procurar o sono. Sinto prazer em dormir na hora em que as pessoas precisam acordar, é uma rebeldia que eu costumo exercitar às vezes. É a minha vitória sobre o sistema, as regras e até a natureza.
Droga de vida que nos coloca assim tão uns contra os outros!

Mas apago a luz, puxo o cobertor e sonho com a vida que eu acho que tenho às vezes. Ela tão pertinho está...
Não vejo nenhuma razão para ter medo, ainda que tenha.
Então a questão a decidir é: onde mais quero ir na madrugada?
Até onde?
Até onde eu sou capaz de ir para me buscar, se a cada dia eu posso ir mais longe?
Certo, assim nunca vou me achar. Mas o prazer da busca me tenta.
Atenta, eu posso fazer mais isso.
E voltar a dormir, que um friozinho invade o quarto e o barulho dos ônibus me autoriza a sentir o prazer de dormir na hora contrária de uma parte grande do mundo.

E, depois, decisões importantes tomei."

Como é bom, essas coisas...