domingo, 22 de julho de 2012

A triste história de um homem com um mal sem prescrição

A sua maior frustração foi a impossibilidade de encontrar frases prontas para tudo que estava sentindo. Nunca sentiu tanta falta de um bordão. De uma máxima!! Uma vez leu na Náusea de Sartre que seu protagonista sentia sentimentos fracionados, e por isso mesmo impossíveis de caber em qualquer definição possível, qualquer coisa como ódio, dor, medo, inveja, etc.. Enfim, sensações completas e abrangentes demais. Pois é! Ele estava assim, numa sensação gelatinosa, inexprimível e (por isso mesmo) triste. O Tempo parecia ignorá-lo, não agindo como os sermões dos mais velhos que diziam que a experiência lhe visitaria e lhe diria o que fazer. Não. Nada disso. Estava só, frustrado. Sentindo-se alienado das normatizações quadriculadas endereçadas ao "homem de bem". Sim, era isso!!! Ele se via na impossibilidade de ser o homem de bem! Esse homem. Experiência acabada das conquistas freudianas e copernicanas... Ele se viu distante disso. Mas o mais incrível (ou não) é que ele honestamente odiava aquela hipocrisia toda! Das pessoas falsas e safadas (pra usar uma expressão de J. D. Salinger) que exortavam morais matemáticas. E assim mesmo sentia-se triste!!!!! Triste por não conseguir livrar-se do "ver-se aos olhos dos outros", do "o que será que vão pensar". Achava tudo um lixo, mas se importava com isso. Talvez esse fosse o seu principal sofrimento. Duas, semanas, um mês, quatro anos, sei lá... Não conseguia projetar para si a glória. A sua vivência "anômala" não prometia um devir moralmente desejável. Não ser um homem de bem e não ter um sentimento grafadamente acabado era o fim!! Doía-lhe. Não havia glamour, nem nada. Nem nada. As fugas oníricas também já não apareciam mais. Estava o tempo todo pensando nisso. O tempo todo! Descobriu realmente que não estava feliz. Percebia o caminho para algo nada bom, nada promissor! Mas o mais triste dessa história toda é que todo o tipo de ajuda imaginável lhe causava aversão, mostrava-se absolutamente estéril!! Essa é a história de um homem que não sabe o que é, não sabe o que tem, não sabe o que quer. Mas sabe, claramente, que está aquém de qualquer coisa que possa responder qualquer uma dessas incertezas acima. Essa é a triste e terrível história de alguém que NÃO É.