terça-feira, 4 de maio de 2010

MADRUGADA (por Ana Inês Klein)


Olhem só o texto que cruzou meu caminho, que invadiu meus olhos. Sim, os pensamentos fantásticos ainda existem, e podem estar nos cercando. Eis as reflexões de Ana Inês Klein, uma ex-professora. Algo simplesmente...bom, vejam vocês mesmos:

"MAGRUGADA
Acordo de madrugada e ando pelo apartamento em busca de água. E algum sossego.
No caminho encontro minha gatinha misturada ao escuro da sala. Descubro essa identidade minha com ela: andar na madrugada, descalça; ver no escuro; andar no escuro; viver a noite; ouvir o dia amanhecer lá fora.
Minha agitação tem vários motivos semanais, mas minha serenidade também terá.

Quando eu disse ao meu vizinho que outras coisas me atrapalhavam bem mais do que suas ótimas músicas, libertei um monstro que tinha dentro de mim. Disse com isso que somos iguais em muita coisa e que eu estava do lado dele. E por que não? Não sei.
E por que sim? Porque sim, porque é o mundo que eu entendo. É onde eu ando, sem bater nas coisas, é onde eu transito segura. É como a noite do meu apartamento.

Mas amanhece e eu fico determinada a procurar o sono. Sinto prazer em dormir na hora em que as pessoas precisam acordar, é uma rebeldia que eu costumo exercitar às vezes. É a minha vitória sobre o sistema, as regras e até a natureza.
Droga de vida que nos coloca assim tão uns contra os outros!

Mas apago a luz, puxo o cobertor e sonho com a vida que eu acho que tenho às vezes. Ela tão pertinho está...
Não vejo nenhuma razão para ter medo, ainda que tenha.
Então a questão a decidir é: onde mais quero ir na madrugada?
Até onde?
Até onde eu sou capaz de ir para me buscar, se a cada dia eu posso ir mais longe?
Certo, assim nunca vou me achar. Mas o prazer da busca me tenta.
Atenta, eu posso fazer mais isso.
E voltar a dormir, que um friozinho invade o quarto e o barulho dos ônibus me autoriza a sentir o prazer de dormir na hora contrária de uma parte grande do mundo.

E, depois, decisões importantes tomei."

Como é bom, essas coisas...

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