sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Um homem provinciano


Várias folhas foram se amontoando na mesa, João quase já não repara. Tornou-se impossível identificar as categorias e os temas...

Ela mordeu ele no braço esquerdo. Sorriu, o confundindo com os outros homens da região. Ele também sorriu, subestimando os próximos dias. Pediu outra mordida...
Os dois montaram mo meio da rua um cenário de teatro, e todos os dias encenavam, a impressão de quem passava era de que falavam sério. Mas não havia uma intervenção!! Não queriam chocar as pessoas, queriam só a sua ignorância!!! Choveu, num desses dias, e molhou as cortinas da coxia. Nenhum dos dois fez nada!!! Correram, rindo, fugindo da chuva. Ela estranhou quando, no fim de sua quinta temporada, não conseguia remover a maquiagem, ao passo que o figurino dele sequestrou seu corpo, havia tomado posse. Foram pras suas casas com as roupas da peça!!

João correu para não deixar cair um papel que estava no canto direito, perto da parede. Tinha se esquecido da última vez em que organizara aquilo tudo...

Ele não gostou da voz do segundo analista, não o convencia. A sua procura por ajuda começou quando estava se tornando insuportavelmente agradável o cheiro e barulho vivo de tudo, as dimensões policromáticas das coisas subvertiam a realidade tátil. O certo é que o mundo real é que o escapava. Com pressa, ela dava os últimos retoques no rosto com um pó cor de pele que passava por cima da maquiagem. A maquiagem da maquiagem, a primeira há muito não saía. Teve uma vez, enquanto dançavam, que ele se sentiu tonto e pediu pra parar um pouco, ela acatou, mas achou graça. Numa desforra lasciva, ele voltou e dançou bem rápido,mas ela ria. Ele ria, sabia que não a atingiria. Voltaram pro cenário no meio da rua. Sabiam que estavam indo era pra casa.

Aqueles rompantes de moralista e planejador de vez em quando operavam em João que, frente àquela bagunça que tinha criado, deu de ombros. Não acreditava conseguir arrumar aquilo que só ele mesmo podia arrumar.

A velha na calçada sorriu, ele empalideceu! Não conseguia mais atuar fora da peça. Tinha um rasgo na perna de seu figurino. tinha tentando tirá-lo há alguns dias atrás.
Era muito cedo pra ela entender a duração da peça, e chegou a pensar que talvez não houvesse aplausos nunca. Sua força ria disso tudo.
Mordeu ele no braço. Ele riu. Riu porque gostou. Riu porque acreditou.

Jogado no chão, João era agora religioso... sustentava a argumentação de que a metafísica o salvaria. Ouviu um barulho na mesa. Pensou terem caído todos os papéis, por fim.
Mas não. Ainda não...