sábado, 15 de agosto de 2009

O garçom e a liberdade de expressão


Eu trabalho há um pouco mais de um ano como garçom. Não sou funcionário de nenhum estabelecimento, mas sim faço serviços free-lance nos mais variados lugares, o que me faz encontrar no dia-a-dia públicos os mais diferenciados possíveis, financeira, social e culturalmente falando. A filosofia do “sempre sorrindo”, do “o cliente tem sempre a razão” e etc, etc etc, é cabal é indispensável nesse tipo de trabalho, mas às vezes fica difícil lidar com algumas circunstanciais situações, o que cria em mim uma profunda vontade de expressar os meus mais profundos sentimentos em relação a algum mala ou mal-educado que cruza o caminho da minha bandeija. Aí vem aquela lembrança do profissionalismo que está em jogo, e acaba tudo num belo sorriso acompanhado de um “pois não”, “é claro, é claro”.
Imaginem se a palavra Liberdade de Expressão fosse realmente de possível utilização em nos diferentes momentos de nossa vida. Mas infelizmente, quando não se pode é quando mais se precisa. Relaciono, abaixo, algumas das frases que gostaria de dizer nos meus serviços de garçom, palavras que me aliviriam o espírito, me relaxariam a alma, mas que são, obviamente, impossíveis de saírem da boca. Ei-las:

“Será que o senhor não vê que está todo mundo cansado? Só você e sua esposa estão atrasando o fechamento do local, o senhor não tem consciência disso?”

Numa correria, e eu com coca-cola guaraná e cerveja, daí uma senhorita “-Moço, me vê uma água mineral. –Agora a senhora vai esperar, só depois eu vou trazer. É brincadeira...pedem só que a gente não tem. Espera, porque vai demorar.”

“Bah, mas vocês comem hein? Já troquei o prato de docinhos da mesa duas vezes e querem mais, nanananã, chega.”

“Não meu amigo, não tem mais salgadinhos, tu chega a essa hora na festa, quase acabando, na maior cara de pau e quer comer salgadinho, ah por favor...procura numa mesa aí se tem.”

“-Garçom, essa cerveja que tu trouxe ta gelada? –Não, não. Essa aí eu peguei fora do gelo pra ti, só pra te contrariar”

“Psiu o quê? Eu não sou gato, custa dizer ‘ô garçom’?! .Que falta de respeito”

“Se a senhora não segurar direito a taça, eu vou virar a espumante toda em você, aí a culpa é minha, né bocaberta?”

“Não amigo, não vou mais lhe servir cerveja, o senhor já está super bêbado, tá todo mundo reparando, ta fazendo um baita fiasco, toma vergonha e vai pra casa”

“-Ô garçom!!! –Fala chato.”

Essas e muitas outras palavras, me deixariam muito satisfeito se pudessem ser proferidas, pois às vezes não estamos muito bem, e damos de frente com pessoas complicadas. Mas, a liberdade de expressão de fato é impossível, as pessoas não conseguiriam viver em sociedade sendo completamente honestas. Enquanto isso, vou sorrindo e dizendo “o senhor aceita um cafezinho?”

4 comentários:

  1. É verdade meu amigo Márcio, mas as vezes também não devemos dizê-la, pois também não sabemos o que está se passado na vida daquela pessoa. A palavra tem força e o silêncio é a força dos Sábios...
    Gostei do blog.
    Abraços Garoto
    Alexandre Guilamelon.

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  2. Cara, acho que essa situação acontece em todas as profissões. Qualquer trabalho vc tem vontade de falar algo para o patrão, no caso de quem trabalha com o público, todos são patrões, o que torna mais difícil ainda.
    Abraço!

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  3. Anelisa Poncio21/08/2009, 19:25

    Soor,muito legal!

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  4. Amigo Marcito...não é fácil!!!Mas concordo com o Paulo, acontece em todas as profissões..apenas modificam-se as situações circunstanciais. Abraço

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